PALAVRAS ENVERGONHADAS
Há quem diga que palavras matam e curam. Discordo.
Quem mata e cura são indivíduos. Palavras acionam ordens acomodadas na mente,
cuja instalação se deu por meio da comunicação interna de cada humano. Agora,
que certas palavras são envergonhadas, isso é fato. E, a depender do contexto,
concordo com elas em gênero, número e grau. Concordo, porquanto no menos das
vezes também sinto vergonha. No mais do menos, não damos a cara nem à base de
sal grosso no lombo. Digo mais. Não tenho a menor vergonha de dizer que sinto
vergonha. Reconheço que é cultura fora de moda, adubada tão somente pelos
roceiros, mas não abro mão de aguá-la toda manhã.
Esse brega e
prolixo prelúdio foi para dizer que há dias tento localizar algumas palavras e
não consigo. Palavras que expressassem indignação
quanto ao abandono da
segurança publica de meu estado até que achei. Da educação, também encontrei.
Mas nadica de nada de localizar as que escancarassem a revolta em relação à
saúde pública de minha cidade. Simplesmente puseram um lençol preto no rosto,
encolheram-se e quedaram-se emburradas, numa maca de constrangimento, mortas de
vergonha. Tenho certeza de que estavam pondo em prática a lição de D.
Minervina, a minha saudosa mãe: “Quem tem vergonha não faz vergonha a ninguém,
meu filho”.
“Quem tem não
faz, meu! Por acaso, queres deixar envergonhado o pessoal da Saúde?”, disse-me
a amiga Algo, cochichando, ainda que encapuzada.
Mas aí é que
tá. Quem primeiro fez vergonha a quem? Foram eles, minhas nobres. Foram os políticos
e administradores públicos da saúde pública quem as deixaram nesse estado. Mental e geográfico. Lembrem-se disso.
Foram vocês,
por acaso, que entupiram de lombrigas a saúde pública, até que, sem o menor
pudor, acharem que a solução estaria num purgante, o tal decreto de calamidade
pública?
Não? Não ouvi.
Não? Então saiam do esconderijo e se apresentem. Crápulas, cafajestes,
indecência, patifaria, deboche, bandalheira, meretrício, menosprezo, pouco-caso
e colegas dessa estirpe não valem, vou logo dizendo.
Por acaso,
serão vocês as sádicas que, decorridos cinco meses de enfiado o tal laxante na
goela de nossa amiga, estão batendo palmas para o Sr. Caos, aboletado numa
confortável giroflex, a se comprazer com pacientes 120 pacientes soluçando no
corredor?
Não? Não
entendi, minhas nobres assustadas. Ah, tá! Então se mostrem. Covardia,
insensibilidade, bandidagem, descaso, desdém, desprezo, desconsideração,
desleixo, preterição, desamor e amontoados assim nem pensar.
Falar em
pensar, pensei quão matuto sou eu. Antigamente, calamidade significava
destruição, grande perda, catástrofe, aflição. Mas essas coisas só se tornavam
calamidade quando decorrentes de fenômenos naturais, infortúnios e coisas que
tais. É certo que temos isso e muito mais na saúde pública desta Natal sofrida.
Mas naquele tempo, o povo tinha vergonha de pegar capim, arame, misturar com
descaso, sacanice etc. etc. etc., deixar o tempo correr e fabricar calamidades.
Se tal ocorresse, a galera fechava a cara, dava um murro na mesa e soltava
sonoro porra e palavrões desinibidos.
No meu tempo
era assim, pessoal. Calamidade era um termo assustador. Nem figurativamente se
usava. Hoje, escuta-se a torto e a direito frases assim: “A saúde pública está
uma calamidade. Nossos governantes são tremendas calamidades”.
Sabe, gente,
vou ficar por aqui, do contrário perco o jantar. As recatadas não vão sair da
toca mesmo! Mas se você falar com o Google de D. Internet sobre a saúde pública
de Natal, ele lhe mostrará a ruma de perguntas que eu tencionava fazer às
amigas envergonhadas.
É isso. Espero
que você, caso não resida aqui, tenha mais sorte e encontre palavras que não
tenham vergonha de descrever a saúde pública de sua cidade. Aproveito a prosa cabocla e o convido para o
nosso carnaval fora de época, o Carnatal. Não tem máscara, tampouco músicas
carnavalescas, menos ainda papangu, mas tem mé que dá no pé da canela. Não se
esqueça de botar em dias o seu plano de saúde, viu? Sabe como é que, né? Às
vezes, a gente extrapola e...
E enquanto não
passar a Copa do Mundo de quatorze, evento no qual seremos sede de quatro jogos
- orgulhosamente e com porradas nos peitos, diga-se – não podemos desperdiçar
recursos com coisas de somenos importância, tipo segurança e educação. E saúde,
é lógico.
Até mais ver,
Tião
5 comentários:
Sensacional a frase da tua mãe. Como diz um amigo meu do ECC: "Frase porreta". Nunca imaginávamos um médico que não socorre o paciente que está nos corredores dos hospitais, um policial que não socorre o ameaçado na rua. O voto é, ainda, um forte instrumento do povo, mas precisa ser um voto sustentável, o povo está jogando muito lixo nas urnas! E aqui em Natal...!!!Sds. Zé Alves
Sensacional a frase da tua mãe. Como diz um amigo meu do ECC: "Frase porreta". Nunca imaginávamos um médico que não socorre o paciente nos corredores dos hospitais, um policial que não socorre o ser ameaçado na rua. O voto é, ainda, um forte instrumento, mas precisa ser dado com sustentabilidade, estamos jogando muito lixo nas urnas. E aqui em Natal...!!! Sds. Zé Alves
O voto, meu caro Jalves, é questão complexa. Dá outro post. Por enquanto, receba meus votos de feliz Natal.
Valeu, amigo!
Tião
Apesar de todos eles,
Sempre resta esperança;
O problema é que o povo
Não resiste a música e dança;
Aí eles aproveitam
E fazem muita lambança.
Felicidades neste Natal!
Jalves
Valeu, poeta de Alexandria.
Que tenhamos um feliz Natal, sim.
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