Antes de se engasgarem com o texto, preciso lhe dar uma
informação. Corra e clique aqui em cima, na guia de meu e-book, “QUÊ!” O bicho
está esgota não esgota, galera. Fato inédito no mundo editorial, mas é verdade.
Pela primeira vez um e-book fica esgotado. Fazer o quê? Tá rindo de quê?
REFLEXÕES DE UM ENGASGATO
Há séculos venho pensando nisso. Hoje, motivado por
amoroso fato de ontem, julguei ter chegado o momento, após julgar-me competente
para me expressar. A ignorância deve ser afogada, a história tem o dever de
esganar o mito, a verdade precisa respirar. Meu mutismo tem limites, pensei.
É imperioso tirar esse entalo da garganta.
Entendam-me.
Não sou a criatura mais importante do planeta. Essa aparente cabotinice é
explicável, já que vou me expor, desfazer-me de absurdas éticas, pôr no lixo as
máscaras da pseudoeducação. Chegou a hora de dizer o que penso, mas que, pela
incapacidade de me comunicar, guardava na gaveta do inconsciente. Meu temor é
não encontrar as palavras certas. Mas hei de encontrá-las, sim. Não temo o
juízo de valor de Vossas Excelências. Até porque, Vossas Excelências são
um
Amazonas de contradição, um Índico de egoísmo, um Atlântico de maledicência.
Sou mais o meu diminuto pinguinho de autenticidade. Às favas as críticas.
Importa-me
somente livrar-me de certos engasgos.
Conheçam-me.
Desculpem a impropriedade verbal. É evidente que os senhores me conhecem, o que
não é garantia de que gostem de mim. Taí Luís açougueiro e Chico da
panificadora, conhecidíssimos, mas sempre dispostos a me espancarem.
Conhecer-me também não significa que me tratem com respeito. Conhecidos há que
se comportam como a indiferente Glória e a desrespeitosa Sônia. Prefiro o grupo
dos inimigos à patota dos indiferentes, acredita D. Glória? Mesmo porque,
ninguém é obrigado a gostar de mim, assim como não sou obrigado a gostar de
todo o mundo. Mas a ninguém é dado o direito de ser indiferente com alguém ou
com alguma coisa. As duas me desprezam, nem sequer um aceno me dão. Indiferença
total. Não tomar partido por algo é irrigar a babugem da imbecilidade, é
sentar-se no Everest da apatia. A indiferença... A indiferença, Dra. Sônia, é o
mais mesquinho dos sentimentos.
Estava com
isso atravessado, Dra. Sônia.
O ser humano é
muito esquisito. Abestalhado, diria. Sou quase mudo, sabem vocês. Então o que
acontece. Imbecis existem, bastantes, sim, que veem surdez na mudez: despejam
idiotices e safadezas no meu focinho, como se mudo não ouvisse. Dia desses, num
restaurante de beira de estrada, presenciei certa cena... Uma, não. Duas.
Preciso
desfazer-me desse espinho, gente. Sucedeu o seguinte.
Restaurante de
estrada, fazendo um parágrafo, é ideal para se conhecer os podres de muita
gente. Pois bem, cheguei ao restaurante e farejei logo o jeitão amedrontado
daquele casal. Botei a barba de molho. Namoravam às escondidas, dizia o olhar
apaixonado. “Precisamos ter muito cuidado, amor. Se fulaninho nos pegar...
Sabe, querida, nós...” Minha atenção voltou-se para a mesa atrás de mim.
Levantei as orelhas, dei uma coçadinha na barbicha, fiquei de mutuca. “Não deem
bobeira. Na dúvida, atirem na cabeça”, um barbudo meliante, cara de cachorro,
orientava dessa forma os comparsas. De ouvidos nas duas mesas, descobri,
abreviando: o casal ficou de se encontrar numa capital vizinha, certamente para
um combate de libidos. Os facínoras planejavam um arrastão, seguramente para um
enlace de crimes.
Espreguicei-me,
olhei em volta e saí de fininho, atordoado. Não tivesse sido tão ágil e teria
morrido atropelado na saída, por uma camionete. O Homem sabe o que faz,
imaginei. Deu-me singular senso de observação, pluralíssima rapidez física e
mental, inadjetividade poder de sedução. Mas me negou a força verbal. Se eu
pudesse falar, faria de eloquência eficaz metralhadora. Na agulha, cápsulas de
aconselhamento para o casal e balas de padecimento para os bandidos.
E esse povinho
ainda se diz racional. Racional uma ova. O casal deseja o prazer supremo,
mandamento divino, mas, em nome de anacrônica convenção social, deixa o sexo
constrangido e se sujeita à escuridão emocional.
Amar nas
trevas é racional, então. Grotesco!
Que se
dialoguem, mudem-se as desastradas convenções e dispam-se da hipocrisia social.
O erótico toque de sinos é prenúncio do sorridente picadeiro da vida, não de
fastiento anfiteatro da frustração. Vivamos, pois. Às claras, por favor.
Racional uma
ova. A bandidagem almeja a carnificina, ensinamento diabólico, mas, por extremo
descaso estatal, deixa famílias desamparadas e se põe a chupar dedos.
Matar e roubar
os semelhantes é racional, então. Ridículo!
Que se
previnam, mudem-se as ineficientes normas legais e vistam-se dos rigores da
lei. O harmonioso badalo de sinetas deve servir para espairecer, nunca para
recolher. Vivamos, pois. Desassombrados, por favor.
Tinha urgência
em remover esse negócio da goela, pessoal.
Não removi antes porque, como já disse, não
sabia me expressar. Mas de tanto ver o Bastinho mexer no computador, acabei
aprendendo. Aprendi no momento certo, porquanto preciso agradecer a minha amiga
Neneta.
Vejam. Fizeram
uma festa aqui em casa. Vacilaram e deixaram uns ossos de galinha dando sopa.
Fartei-me com alguns, mas me engasguei com um danado maior. Ô ossinho duro de
roer. Morto de sede, tentava tomar água, mas cadê dar o goto? Passei um sufoco,
gente. Vi a hora pegar o beco. Pense numa sensação ruim, véio. Nossa! Horas
depois, a Neneta viu minhas patas sujas de baba e mostrou-me ao Bastinho.
Ficaram preocupados, Bastinho já coçando a cabeça e pegando o celular a fim de
ligar para o veterinário, o tal do Dr. Sérgio. Lá vêm espetadas na bunda,
pensei. Ninguém merece!
Aí a santa da
Neneta teve uma ideia. Vestiu a mão com um saco plástico, deitou-me, prendeu
minhas patas, inspecionou-me a garganta, viu o infeliz do osso e puxou. “Tá
vendo chaninho, tu vai comer essas porcarias, homem!”, disse ela, livrando-me
do engasgo. E livrando-se do saco plástico.
Que alívio! Se
eu pudesse, teria coberto a negona de beijos. Ufa!
Estava com
esse entalo na garganta, pessoal.
Obrigado
Neneta.
É isso.
Beijos, ainda
que virtuais, e até outro dia,
Chaninho