O PIPOQUEIRO
Doido
pra descolar, o pipoqueiro escorou-se no carrinho e ficou a observar o vai e
vem das pessoas. Observava e pensava: ninguém mais compra pipoca. Crianças não
gostam mais de pipoca. Deixaram até mesmo de brincar. A tal da internet virou o
mundo de cabeça pra baixo. Aí o pipoqueiro botou umas pipoquinhas na boca e
ficou remoendo. Remoía o que o filho lera na internet e lhe contara:
escândalos, escândalos, escândalos.
Parou
de pensar em escândalos. Queria pensar no que ninguém nunca pensou. Então parou
de remoer. Parou porque ficou de boca aberta. Boca aberta por causa da mulher
que dele se aproximava puxando um menino. Jamais o pipoqueiro vira mulher tão
linda. Continuou de boca aberta quando o menino apontou pro carrinho e
perguntou à mulher o que era aquilo. O pipoqueiro deu-lhe um saquinho de
pipoca. A mulher olhou pro pipoqueiro e sorriu. Não era sorriso. Era uma trava
no queixo do pipoqueiro. O pipoqueiro não podia fechar a boca. De boca aberta
não podia falar. Mas os olhos podiam. O olhar da mulher também falava. Era
paixão em estado líquido. Líquido porque pingava... Pingava o quê? Ou era ódio
em estado sólido? Sólido porque parecia... Parecia o quê?
A
mulher sorriu e se alvoroçou. Alvoroçou-se, prendeu o cabelo e partiu pra cima
do pipoqueiro.
O pipoqueiro
começou a pensar no que nunca havia pensado. Pipocaria?
Pensava
em escândalos.
Dezembro/14
TC